*por Hilton Dominczak
Antigamente um empreendedor criava uma empresa ou recebia a empresa como herança familiar. Uma fazenda era administrada por um fazendeiro. Um hospital era administrado por alguém ligado à área de saúde. Uma faculdade particular tinha como proprietário alguém da educação. Os exemplos são muitos. Hoje esse cenário mudou. As empresas que alcançam o sucesso são adquiridas por fundos de investimento, cujo principal objetivo é aumentar cada vez mais sua rentabilidade da empresa, não importando o setor da economia onde atuam.
Os fundos de investimento precisam dar satisfação em primeiro lugar aos seus acionistas. Se precisar demitir colaboradores para que a rentabilidade aumente, isso será feito. Se precisarem descontinuar a produção e um produto qualquer, isso será feito. Inovação e investimento em novas tecnologias e novos produtos são secundários. O objetivo imediato é sempre aumentar a lucratividade, gerando cada vez mais dividendos aos seus acionistas.
Temos um exemplo clássico no Brasil, com a Petrobras, onde o investimento em energia limpa é só retórica, importando em primeiro lugar os milhões de reais pagos aos seus investidores. Inovação tecnológica na Petrobras vem em segundo plano; gerar lucro para os investidores vem em primeiro lugar. Caso seja necessário elevar os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, isso será feito sem titubear. Importa em primeiro lugar garantir os lucros astronômicos dos investidores.
Outro exemplo, bem próximo de onde eu moro, o Espírito Santo, é a área de saúde. A Athena Saúde acabou de adquirir o hospital Santa Mônica, em Vila Velha, que passará a se chamar Apart Vila Velha. A Athena já é proprietária do hospital Apart Vitória, do São Bernardo Apart de Colatina e do plano de saúde São Bernardo Samp, que atende Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Cachoeiro de Itapemirim.
A Athena Saúde é um braço do fundo Pátria Investimos, que atua em diversos setores: Agronegócio, Energia, Saúde, Logística, Alimentos e Serviços Tecnológicos. Esse fundo está presente nos EUA, na Europa e na América Latina. Grandes fundos de investimento como o Pátria Investimentos, adquirem empresas dos mais diversos setores da economia e seu principal objetivo, repito, é elevar ao infinito a rentabilidade das empresas onde atuam. Funcionários e empregados são apenas uma peça da engrenagem, assim como os clientes.
A concentração de empresas nas mãos desses grandes fundos de investimento não é apenas uma tendência, mas uma realidade atual. Países e governos hoje estão nas mãos desses grandes fundos e investimento – eles detêm a propriedade das grandes empresas de diversos países.
Ficou no passado a época romântica onde o proprietário de alguma empresa tinha expertise na sua empresa, no seu segmento. Agora quem manda são os fundos de investimento. Eles têm o poder econômico e político praticamente no mundo inteiro. Alguns políticos são os testa de ferro desses fundos, atuando nos parlamentos de diferentes países. E a grande imprensa é a porta-voz do interesse desses grandes financistas.
Serviços públicos como SUS e universidades públicas estão sempre na mira desses fundos, daí o bla bla bla diário na imprensa a favor da privatização nesses setores. A Sabesp em S. Paulo foi privatizada recentemente numa negociação suspeita; lembrando que água e saneamento básico é um serviço público essencial para a população.
No Brasil a palavra privatização passou a fazer parte do vocabulário até das pessoas mais humildes, que consideram que tudo o que é privatizado é melhor. Nem sempre é bem assim, em muitos casos há controvérsias… Enfim, esse é o cenário do mundo atual, onde os grandes financistas mandam e desmandam em tudo e em todos.

*Hilton Dominczak é Sociólogo pela PUC-SP, especialista em moderação e análise de estudos qualitativos, com 25 anos de atuação no mercado brasileiro.